Friday 13 October 2017

Lojas de antanho: Alfaiataria Piccadilly no prédio do Marrare

O chamado prédio do Marrare, que hoje tem os números 54 a 64 [de que já aqui falámos], é um dos imóveis de maior destaque deste burgo. Compõe-se de lojas, quatro andares e águas-furtadas, com as modeladas grades que se tornam salientes das suas varandas, seis em cada um dos principais pisos. 
Numa evolução cadenciada pelo tempo, várias modalidades de negócio seguiram, sucessivamente, no encalço do celebérrimo café, com os números de porta 58 e 60, que dera por findas as suas inolvidáveis proezas. 
Logo em 1866, e como primeira transformação, sobreveio a Sapataria Lourenço, do apurado mestre Manuel Lourenço, citado por Eça, no Primo Basílio.
Numa completa cambiante, um dia acabou o calçado afiambrado, e a varinha mágica transformou tudo na elegante Chapelaria Araújo, que em 1884 marcava pontos, pertencendo já a Augusto Ribeiro & C.ª. Ainda passou para outro negociante, de nome Miguel de Lacerda, e, em 1912, nova metamorfose se verificou, com a entrada da Alfaiataria Piccadilly, notável pela forma de vestir. 

Alfaiataria Piccadilly |c. 1912|
Rua Garrett, 58-60; prédio do célebre café Marrare do Polimento. Entre 1925 e 1963 funcionou aqui o Café Chiado.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Em Junho de 1913, teve lugar a «semana das bengalas Piccadilly» — e por esta nota se deduz como estava enraizado o uso de tais bastões, exposição em que estiveram patentes, aos olhos dos elegantes, mais de dois mil exemplares. No mesmo ano, outra exposição teve lugar, figurando os melhores quadros do apreciado pintor João Vaz. O estabelecimento, em 1918, transitou para defronte (números 69 e 71), por os seus proprietários haverem cedido a casa a um destacado grupo de intelectuais, simultaneamente capitalistas, que montaram aí a bem lembrada Livraria Portugal-Brasil, em nome da Sociedade Editora com igual denominação, constituída por escritura de 11 de Dezembro de 1918, compradora do valor social da antiga Livraria Ferreira, da Rua do Ouro, 132 a 138, que sucedera à firma Pacheco & Carmo.¹
Encerrou portas em 2011, substituída por uma loja de uma cadeia de sanduíches.
 
Prédio do célebre café Marrare do Polimento |1965-03|
Rua Garrett, 58-60Alfaiataria Piccadilly (a seguir ao 2º toldo). Entre 1925 e 1963 funcionou aqui o Café Chiado.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante: história, figuras, usos e costumes, pp. 137-147, 1987.

2 comments:

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